TERÇA-FEIRA, 25 DE AGOSTO DE 2009
Daiblog entrevista Ron Jones
O filme A onda é baseado em uma história real ocorrida na Califórnia, em 1967. Leia agora uma entrevista com Ron Jones, professor e inventor da experiência verdadeira que deu origem ao filme.Como é para você estar no set de A Onda?
Como foi sua reação às primeiras filmagens?
Bem, a primeira coisa que observei ao ver aquela correria foi que era como estar na sala de aula ao invés de observar à distancia - era como se eu fizesse parte daquilo. E também o fato de ver todas aquelas pessoas que me pareciam familiares e compreende-las bem. Mas o filme retratava algo a mais que eu não compreendia, que eu nunca havia escrito nada a respeito, como a dinâmica entre os jovens professores e os professores mais velhos. Existem maneiras de ser um professor e maneiras ainda mais novas, e isso existia na escola em que eu lecionava e provavelmente isso existe em cada escola – isso se chama A Onda em nosso filme.
Minha esposa lecionava em outra escola durante esse tempo, no nível primário. E éramos jovens professores, os dois cheios de idéias e energia. Ela estava a par do que estava acontecendo e foi a pessoa que felizmente – talvez sejam as mulheres que irão salvar nosso destino na vida – me disse que aquilo não era certo. Disse que não era bom para mim, por que eu não saberia onde isso iria dar e porque eu estava ferindo outras pessoas, além de não ser algo que eu acreditava, não era democracia. Isso era perigoso. Então ela foi a pessoa que me colocou de volta em algum tipo de realidade e me forçou a parar com A Onda. Por isso eu acho que todo mundo deve ter uma boa esposa ou mulher por perto que possa dizer: “Ei, pare com isso.”
Não, não. A experiência funcionou porque muitos de nós estávamos perdidos, sem família, sem pertencer a uma comunidade, sem a sensação de pertencimento, e aí aconteceu de termos um professor dizendo “posso dar isso a vocês”.
Ah, já está funcionando hoje em dia, em cada escola. As pessoas sempre perguntam se poderia acontecer hoje. Ora, é só olhar na escola mais próxima. Onde está a democracia? Sempre falamos de democracia, mas não estamos experimentando-a. Você não está decidindo que livro ler ou que temas discutir ou como ajudar um ao outro a se tornar um cidadão melhor. Você segue o seu currículo porque alguém diz que é o currículo certo, ou está fazendo uma prova para ir para algum lugar melhor – é tudo controle. Mas você não tem o controle, esse controle é de outra pessoa.
Não por causa da Onda, mas por minha luta por direitos civis e contra a guerra no Vietnã, eu fui despedido dessa escola três anos após a experiência de A Onda, e eu nunca mais pude lecionar em escolas públicas. Portanto minha vida sofreu uma mudança que eu não previra. Eu queria ser um bom professor de história, um treinador de basquete e criar minha família. Isso seria maravilhoso, mas não me foi permitido. Como conseqüência, fui forçado a procurar diferentes lugares para lecionar, por isso eu dei aula para deficientes mentais durante 30 anos.
São realmente fascinantes! Dennis e eu nos comunicamos por carta e foi encantador. Ele foi honrado e me respeitou mandando o seu roteiro, não teve medo. Além dessa troca de cartas sobre o que ocorre nas salas de aula, o que nós observamos e como confiar um no outro, foi como encontrar um irmão mas velho, no caso do Dennis, porque ele volta e meia tem escrito. E com o Peter é a mesma coisa. Quero dizer, nós, escritores, sabemos como reagimos a esse mundo pirado que tentamos compreender. Às vezes nós conseguimos pouco, às vezes conseguimos mais, mas estamos sempre tentando descobrir o que é: o que é o coração, o que é a vida, como fazer melhor. Nós estamos na mesma busca. Portanto é como ser irmãos por um momento. Já o Christian é um produtor, um outro tipo de pessoa. Produtores são parte dessa força que nos reúne por um momento, eles são muito acessíveis. Ele é fascinante, justamente por ter essa energia e a capacidade de ficar dois anos conversando com a Sony. Quem mais gastaria dois anos em busca de um sonho? Ele é um caçador de sonhos, e nós precisamos disso, como precisamos de pessoas como Peter e Dennis para tornar esse sonho realidade.
Artigo original Daiblog entrevista Ron Jones | Daiblog
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Muuuuuuuuuito bom ver o filme (várias vezes) e ler a entrevista...
ResponderExcluirVale reproduzir em grupos pra cultuarmos a reflexão como ponto de partida, de chegada e caminho.
Uma Onda, seja do que for, precisa ser analisada...
O vazio do humano, no filme, foi preenchido pela autocracia... E hoje, o que ocupada esse espaço?
Amei, sempre bom estar com vocês!
Fantástica a entrevista....
ResponderExcluirO filme rende boas e necessárias reflexões, pena que não deu para falarmos muito.
Mas a experiência está em nós e irá reverberar.
;)